A Nutricionista

A nutrição é uma profissão recente. Sempre pensei, antes de ser de fato nutricionista, que a profissão seria bem antiga, afinal comemos todos os dias, a alimentação faz parte do ser humano e nada mais justo que de alguma forma essa ciência fosse estudada e aplicada há tempos de forma separada da medicina como um todo. Mas não.


Segundo dados do CFN, o Conselho Federal de Nutrição, em 24 de outubro de 1939, foi criado o primeiro curso de Nutrição do Brasil, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. E só em 1967 houve a regulamentação da profissão do nutricionista. Esse texto está sendo escrito em 2025, ou seja, são apenas 58 de profissão no Brasil. 


De lá para cá muita coisa evoluiu, muita coisa mudou e o entendimento da importância dessa profissão em todas as suas áreas de atuação também. 


Na minha anamnese, aquelas perguntas que fazemos para conhecer nossos pacientes, eu sempre questiono o porquê de buscar a nutrição. Algumas respostas são mais óbvias, “preciso emagrecer”, “meu médico me encaminhou”, “estou com colesterol/glicose/pressão alta” e por aí vai. Mas vez ou outra recebo respostas surpreendentes e instigantes, que me fazem repensar a importância dessa linda profissão. 


A gente come muito! Todo dia, várias vezes ao dia. Estamos sempre pensando e planejando nossa alimentação. Ela é motivo de briga de casais, de comemoração em família, conforto individual, patrimônio cultural, presente artesanal. Eu gosto de pensar que cada molécula de alimento que colocamos na boca vai se transformar em nosso corpo. Isso é muito poderoso e importante! Não à toa que resolvi estudar melhor esse assunto.


E onde aprendemos sobre tudo isso quando crescemos? Em casa adquirimos os hábitos - você janta ou toma lanche? - na escola não existe essa disciplina, ela está difusa nas aulas de ciência, biologia, as crianças talvez tenham um contato com horta e com sorte tem uma nutricionista que faz algumas exposições durante as refeições. Nada muito formal, afinal é muita coisa para encaixar no currículo, eu entendo. Mas eu não sei se você que está aí lendo sente isso também, que fica essa lacuna, né? Fica faltando saber o básico de uma alimentação saudável, e não estou falando de resolver aqueles problemas que mencionei lá em cima, glicose, colesterol, …, mas o basicão: grupos alimentares, níveis de processamento, tudo que está no nosso incrível Guia Alimentar para a População Brasileira. 


Como eu falei, tudo está mudando. Hoje eu percebo muito mais essa preocupação nas escolas do que na minha época. Mas até isso virar de fato uma geração que sabe o básico, que está atenta, faz boas escolhas e tem uma vida mais equilibrada, vai demorar, nem todos tem acesso a informação e os alimentos saudáveis, são inúmeros os desafios em relação a nutrição no Brasil e no mundo. Mas eu tenho esperança e faço meu trabalho de abelhinha operária, tentando de 1 a 1 no consultório construir uma colmeia saudável, polinizando a informação por aí.